Não tenho saudades de casa, tenho saudades de ser, aí, onde o familiar me descansava. Tenho saudades da segurança de vos ter por perto. As saudades crescem alimentadas pelo confronto constante com o que é diferente e me causa estranheza. Sinto-as a arder na pele como feridas abertas de ter arrancado, com força e pressa a mais, as raízes que me prendiam os braços e as pernas ao que aí era meu. Doi-me a amputação, dor fantasma de partes de mim que já não tenho. Aqui, sinto-me intranquilo, a novidade traz-me o desassossego. Desenham-se dentro de mim imagens ambíguas e desarmoniosas, a projecção simultânea do mesmo objecto com lentes diferentes: a do desconforto e a do deslumbramento. Se, por um lado, me falta o que é habitual, por outro, arrebata-me e enche-me os sentidos o que é diferente. Como o mar gelado de Helsínquia...
A partilha é sempre terapêutica para mim...