quinta-feira, janeiro 18, 2007

Viagem...

Tenho descoberto o sabor de partir em viagem... Agora, descubro o sabor despretensioso da partilha. Quero ser e estar nesta página, quero deixar-lhe cheiro e cor e sabor. Quero recordar e lembrar-me de ontem, de antes. Do que fui antes de ser agora. A vida é uma construção, mas passei tempo de mais a tentar calcar a terra com as botas sujas, apressado, à espera que a madeira se firmasse. Quero cimentar, quero fundar, quero projectar e lembrar depois, comovido, como foi todo o processo. Chega da pressa! Quero cair no vazio à velocidade da neve, apreciar com todos os sentidos o arrepio, o aperto no peito, o aroma áspero do sal, o tremer de frio, o abraço apertado numa árvore, o secar da pele ao sol. Quero muito sentir…

Então parto em viagem. Começa em casa, com a despedida. Crescer implica sempre deixar algo para trás. Encho-me de mim, antes de sair. Verifico a mala uma última vez e vejo-vos lá, as pessoas que menos me vêem sorrir (quem são vocês, que nunca me deixaram conhecer-vos?). Depois tu. Reconheço-te em mim, com este desdém e simpatia mórbida que sempre me baralharam. A ti também, que foste estando sempre, teimosamente. A vocês, que estavam naquela garagem, miúdos. A ti, que não consigo esquecer, foste muito importante e sabes disso. A nós, como grupo, a descobrir o nosso caminho e a calcar as ervas nos caminhos uns dos outros, a construir sem saber, até hoje. Reconheço-te a ti, que apareceste na minha vida como uma semente (ou fui eu que apareci na tua?), as raízes cresceram fundo e revolveram aquela terra cansada. Cortei-te o tronco e voltaste a crescer. Agora não quero mais cortar, quero ter-te, árvore, para te abraçar com amizade. A vocês, às nossas conversas no caminho velho, às canções, aos cultos, à partilha, ao crescimento… A vocês, que estavam e vão estando comigo enquanto este curso segue que nem rio, a arrastar e esculpir dramaticamente a paisagem. Reconheço-te a ti, flor cor de laranja, que me mostraste um futuro estranho que encheu o meu passado certo com dúvidas e inseguranças. Sabes agora que parte de mim é tua, parte de ti tenho comigo, guardo-a numa caixinha de música que só toca se sorrirmos os dois, ao ritmo certo do teu coração. Imagino um abraço… Estou pronto, posso partir.

2 comentários:

catavento disse...

hoje quero ir. a mala estava feita há bem mais tempo do que pensava. o medo e a insegurança do futuro vão comigo e a portuguesa saudade também. hesito antes de sair mas apenas por um segundo.
depois da porta sinto já o sabor do amanhã que me espera num lugar que não conheço. respiro fundo e deixo-me embalar pela musica dessa gente e desse sitio que ainda não bem qual é.
devagar escolho um acaso e vou. páro para me deliciar com a diferença do mundo e das gentes. sem dar conta a minha pequenez encurta-se um quase nada.
nas estrelas, nas árvores, a natureza das coisas simples, na música da caixa que trago no bolso encontro(-te) o calor que aquece o coração que faz crescer o passado e diminui o depois. nunca é fácil. mesmo assim quero estar aqui.
quando voltar levo um sorriso e muitas histórias para contar.


finalmente que chega este sushi exótico de sardinha!!está delicioso! boa viagem!!

*

Unknown disse...

Fantástico, é assim a 1ª palavra que me ocorre...
Sério, vim cuscar por curiosodade e deliciei-me com o licor do teu sushi!!!
Não pares nunca de cozinhar porque realmente as tuas refeições são deliciosas.
Bjicos para ti e para o teu companheiro de viagem...