quarta-feira, janeiro 24, 2007

Deus

Hoje saí de casa para me encontrar contigo. Vesti o casaco e fui à procura, porque sinto a tua falta. Estás na minha vida, mas não te encontro nem te toco. Faço o caminho até ao lago sozinho e procuro um lugar onde estejas tu e mais ninguém, onde só se oiça o bater da neve nos braços e onde nem o vento agite o branco dos ramos. Tinha o coração pesado e precisava sentir o conforto da tua presença.
Quando encontrei o lugar, parei na margem imprecisa e inspirei fundo ar e gelo, toquei com as mãos nuas na neve, deixei-me abraçar pelo branco do chão. Abro os olhos e estou dentro de um quadro, uma paisagem de inverno. Falo contigo, digo palavras sinceras de quem te quer encontrar. Agradeço-te o momento, a visão, agradeço a beleza que vou conseguindo apreciar todos os dias naquilo e naqueles que encontro. Então fecho-me em mim para te sentir, calo-me para te ouvir, fico imóvel, mas não te encontro. Não te toco. Sinto aquele aperto no peito, pesado, ainda. Porque teimo em ter-te na minha vida, se não sei onde estás? Não quero templos e rituais, quero sentir-te ali, sem intermediários. Então, deixo-me ficar... a neve e o dia continuam a cair devagar e dói-me o frio na ponta dos dedos.

Abro o coração e os olhos uma última vez antes de voltar. Vejo as árvores e a neve que se cola a elas, tanta beleza... Vejo o lago branco.... Os barcos dos pescadores cobertos de neve... Aquela beleza és tu e sinto-te ali. A neve cai-me na cara e sinto-o como uma carícia. Abraço uma árvore, despeço-me daquele local, e são os teus braços que me envolvem. Afinal, a felicidade daquele momento estava nas coisas mais simples e voltei para casa a sorrir.

2 comentários:

catavento disse...

há muito tempo que O procuro. tudo me fez crer que não existias. talvez os meus olhos não estejam abertos o suficiente para te encontrar. talvez não tenha procurado bem. talvez tu não me queiras encontrar mas se existes talvez sejas tu que encontro a acenar-me todos os dias no fim da rua, quando saio para o trabalho. não te conheço mas conheço o teu aceno que me conforta todos os dias. e todos os dias eu retribuo acenando-te na esperança que amanha estejas lá de novo e depois e depois...

"encontramos a beleza nos sitios mais inesperados!".

beijo*

David disse...

Olah Mário! Obrigado pela tua passagem lá no meu cantinho! É bom saber que continuas o mesmo... Sim concordo, a felicidade está nas coisas mais simples e nelas também O encontramos! Por vezes também me sinto inclinado para me tornar um discípulo do Caeiro, sobretudo quando percebo que a vida foge tão rápido que nem tempo temos para rever velhos amigos. Julgo que, se ainda não leste, ías gostar do livro "A Saga de um Pensador" de Augusto Cury. (Apesar deste título não ter nada de Caeiro) Um grande abraço,
David